Por: Julia Virginia
de Moura – Pedagoga
O Relatório de
Avaliação Pedagógica é solicitado à Equipe multidisciplinar (ao pedagogo ou
psicopedagogo) de alunos encaminhados com queixas de dificuldades acentuadas de
aprendizagem. Essa solicitação pode ser feita pelo professor, pela família ou
por profissionais da saúde: psicólogo, fonoaudiólogo, pediatra, hebiatra ou
neurologista.
A finalidade dessa
solicitação é obter dados relevantes que possam levar à identificação da origem
da dificuldade que o aluno está apresentando, situação momentânea que pode ser
trabalhada pala própria equipe multidisciplinar da escola ou que poderá ser
levada a uma investigação mais aprofundada se as causas estiverem ligadas a
algum tipo de transtorno mental.
O aluno deve ser
acolhido pela equipe multidisciplinar e após estabelecer vínculos afetivos há
vários passos a serem seguidos para concluir um relatório: análise das queixas
principais, atividades pedagógicas do aluno, observação feita pelo avaliador em
sala de aula e outros ambientes da escola, anamnese com a mãe
(preferencialmente) e várias entrevistas para avaliar todos os aspectos do
desenvolvimento global do aluno, através de exercícios lúdicos e
significativos. Há várias sugestões de matérias e como usá-los na avaliação,
inclusive o teste da psicogenética da escrita, neste artigo.
Observação:
A
avaliação do aluno que se encontra em pleno desenvolvimento global em que a sua
evolução é diretamente dependente da plasticidade neuronal, que ocorre tanto no
desenvolvimento normal quanto nos casos de lesão, na tentativa de restauração
funcional, deve, portanto ser considerada como um momento de desenvolvimento
neuropsicomotor capaz de sofrer alterações. Essa observação deve ser colocada
no relatório e ser respeitada dentro do processo de investigação pedagógica,
psicológica e neurológica, evitando, dessa forma, um resultado conclusivo
errôneo.
Anamnese –
Importância na Investigação de Dificuldades de Aprendizagem –
todos os aspectos que
devem ser abordados, detalhados e assinalados quanto à
sua importância e as condições exigidas para que se possa colher informações
relevantes ao processo de investigação pedagógica do aluno.
Os
principais aspectos são:
•
queixa principal,
•
história do desempenho escolar,
•
história familiar,
•
hábitos diários,
•
vida familiar, antecedentes maternos,
•
antecedentes gestacionais,
•
parto e período neonatal,
•
desenvolvimento neuropsicomotor,
•
interações sociais.
Relatório
de Avaliação Pedagógica com fins de avaliação psicodiagnóstico.
RELATÓRIO
PEDAGÓGICO
(Cabeçalho)
1 – Identificação
Nome
da Instituição, aluno (dados pessoais), professor, ano / série em curso, local
e data).
2 – Recomendações gerais:
•
Recomenda-se zelo em relação aos dados da vida do aluno, no sentido de evitar
que os mesmos sejam divulgados a pessoas não envolvidas no processo
ensino-aprendizagem, preservando dessa forma a individualidade do aluno;
•
Solicita-se zelo em relação aos dados da avaliação que possam gerar dúvidas ou
má interpretação. Sugerimos que neste caso, seja procurada imediatamente a
equipe responsável pelo trabalho;
•
As informações contidas neste relatório foram colhidas no período..._.
3 – Identificação da Equipe:
(dados
dos profissionais que compõem a equipe multidisciplinar)
4 – Motivo do Encaminhamento
(principal
queixa e origem da solicitação: escola, família, profissionais da saúde).
5 – Síntese da investigação:
A
Equipe Especializada de Apoio à Aprendizagem observou o aluno em sala de aula e
em outros ambientes da escola, entrevistou o professor analisou o material da
criança e realizou entrevista com a mãe (anamnese).
O
aluno após se sentir acolhido e familiarizado com o ambiente e com a Equipe participou
de vários encontros lúdicos, significativos com fins avaliativos.
“L”
de conformação física frágil evidencia estatura um pouco abaixo do normal para
sua idade, apresentou-se com os cabelos bem cortados à moda atual dos garotos
da sua idade, uniforme limpo demonstrando cultivar bons hábitos e cuidados com
a higiene.
O
aluno com 09 anos, cursando o 3º ano, duas repetências, apresentou-se nos
diversos momentos da avaliação com tranquilidade, humor estável, comunicação
através de poucas frases e uma postura sugerindo afetivo triste. Interagiu bem,
com naturalidade, através do contato de olhos inconstante sugerindo, em alguns
momentos de seus relatos da vida diária, um pouco de tensão e ansiedade.
Durante
a entrevista “L” manteve uma atividade motora com poucos movimentos físicos,
pouca gesticulação, expressão facial triste, pouca alteração na expressividade,
a mesma entonação de voz: baixa de vez em quando uma leve gagueira, com
resposta breve sem muitos detalhes, usando constantemente a expressão “às
vezes”.
De
acordo com o relato da mãe, o aluno nasceu de parto induzido, cesariana, sem
necessitar permanecer em incubadora. Nos primeiros anos de sua infância não
apresentou grandes problemas de saúde; a mãe relatou lembrar-se apenas de que
era um bebê que chorava muito, nervoso e não dormia bem, demorou em falar as
primeiras palavras com significado; o desenvolvimento motor foi um pouco tardio
em relação aos irmãos, realizou o controle dos esfíncteres aos quatro anos.
Atualmente
tem bronquite asmática, é, portanto, alérgico, alimenta-se mal, está com o peso
abaixo do normal, queixa às vezes dores de cabeça. Percebe que o filho é
“desligado”, sendo necessário receber comandos para realizar as atividades da
vida diária, desde o início da atividade até a finalização, caso contrário,
começa e não termina; quando acha que ele tem uma espécie de “apagão” é
necessário ser chamado, e aí se assusta. Não gosta de ir à escola. Às vezes não
tem interesse em estar com outras crianças preferindo se isolar, em outros momentos
interage bem e faz amigos. Fez uso da linguagem oral com significado aos 5 anos
de idade, tem um pouco de gagueira, troca fonemas na fala. Tem um irmão mais
velho que estuda também nesta Unidade Escolar que se encontra em dificuldades
de aprendizagem, tem epilepsia e faz uso de medicamentos fortes para conter as
convulsões.
Os
pontos mais relevantes do relato da mãe foram: parto induzido, choro prolongado
e intermitente, sono intranquilo até os 6 anos, demora em desenvolver a
comunicação verbal (aos 6 anos) e os episódios de ausências- “apagões”, somando
ás dificuldades de aprendizagem na idade escolar, observados na escola.
Foram
observados e avaliados, na sala de aula (em grupo), individualmente na sala da
Equipe e em outros ambientes da escola: sala de leitura, sala de artes,
laboratório de informática, recreação: atenção e concentração, esquema
corporal, a estruturação espaço-temporal, lateralidade, orientação espacial
através de análise e síntese visual e auditiva, coordenação vasomotora, equilíbrio,
desenvolvimento intelectual afetivo-social. Conceitos básicos de
psicomotricidade: em cima /embaixo, dentro/fora, perto/longe, atrás/na frente,
cores primárias e secundárias, formas geométricas, leitura e a interpretação, a
produção de textos, análise linguística e sistematização para o domínio do
código, (teste da psicogenética da escrita), Linguagem oral (constituição da
fala: troca, omissão ou não de fonemas), do raciocínio lógico, de acordo com a
proposta pedagógica.
“L”
após se sentir acolhido e estimulado pela Equipe de Apoio Pedagógico realizou
todas as atividades propostas com atenção, concentração (sendo que em sala de
aula mantem-se disperso; evidenciando atender comandos e compreensão de
enunciados, respondendo através de pouca gesticulação, comunicação limitada a
algumas frases).
Em
relação à estruturação espaço-temporal, apresenta conhecimento em
desenvolvimento, com algumas falhas na compreensão de si mesmo e de situar-se
no tempo (horas; ontem, hoje e amanhã; dias da semana, meses do ano), mas já
identifica o bairro onde mora, o estado; o país somente através de intervenção;
domina dos conceitos em cima /embaixo, dentro/fora, perto/longe, atrás/na
frente, equilíbrio, locomoção e lateralidade definida.
A
memória lógica, auditiva e visual evidencia algumas dificuldades em verbalizar
respostas que possam ser avaliadas.
Quanto
à inteligência demonstrou capacidade, em desenvolvimento abaixo ao esperado
pela sua idade e ano cursado, de assimilar conhecimentos e compreender as
relações entre eles, integrando-os aos conhecimentos já adquiridos
anteriormente; de raciocinar logicamente e de forma abstrata, manipulando
conceitos, números e palavras.
Foram
avaliadas a leitura e a interpretação, a produção de textos, análise
linguística e sistematização para o domínio do código, do raciocínio lógico.
Na sistematização
para o domínio do código, o aluno encontra-se em processo, no nível
intermediário da psicogênese silábico/alfabético, em que para algumas sílabas
usa só uma letra, escrevendo as demais alfabeticamente; as capacidades, no
campo da leitura estão em desenvolvimento: lê algumas palavras de estrutura
simples, e produz pequenas frases.
A análise linguística
demonstra que os aspectos textuais como: construção de frases e períodos,
coesão e coerência, vocabulário, parágrafo, gênero assim como os aspectos
gramaticais, ortografia, acentuação, pontuação, concordância, forma,
legibilidade e estética são conceitos e práticas que ainda não estão
estruturados, evidenciando defasagem de conteúdos para o ano cursado.
As noções prévias do
pensamento lógico matemático encontram-se no nível operatório-concreto, em que
classificação, seriação, conservação, inclusão de classe se encontram em
desenvolvimento aquém ao esperado para sua idade/ano. Realiza contagem de 1 em
1 até 80, com alguns números espelhados e quantifica até 70.
Reconhece e relaciona
quantidades: maior que, menor que. Realiza cálculo mental utilizando os dedos
como suporte, lê, interpreta (com ajuda) e resolve situações-problemas de
estrutura simples com suporte de estímulos (gravuras), operacionaliza adição e
subtração até 50, não domina ainda os fatos da multiplicação.
6
- Conclusão
Aluno com 09 anos,
com duas repetências, vem de um ambiente familiar inseguro pela ausência da mãe
que trabalha fora do lar, cuja interação social se encontra em desenvolvimento,
dificuldades na aquisição de conhecimentos acadêmicos; linguagem oral
comprometida com troca e omissões de fonemas; sem autonomia e independência nas
atividades da vida diária, desatento e disperso em sala de aula, em todos os
aspectos avaliados encontra-se em defasagem idade/ano cursado, em relação aos
conteúdos e dentro do aspecto cognitivo encontra-se em um desenvolvimento,
porém aquém ao esperado. Apresentando algumas dificuldades específicas na
escrita, em grau menor no raciocínio lógico matemático.
7_
Orientação á Família e ao Professor:
O aluno necessita ser
melhor acompanhado e estimulado em suas atividades da vida diária e nos deveres
de casa, pela família, procurando elevar sua autoestima através da atenção e
afetividade.
Em sala de aula e nas
demais atividades como sala de leitura, laboratório de informática e recreação,
o professor deverá manter o aluno sob sua atenção, incentivando-o no desempenho
de todas as atividades propostas, procurando despertar sua curiosidade e
vontade de aprender através de atividades significativas voltadas para os
interesses do aluno. Fazer uso de material concreto e lúdico. Atividades
específicas de escrita e leitura que promovam o avanço na hipótese silábica.
Estimular a interação social através de trabalhos em grupo, em sala de aula, e
posições de liderança nas recreações.
O aluno deverá ser
atendido pela Equipe Multidisciplinar (Apoio á Aprendizagem) participando de
oficinas de psicomotricidade e autoestima, em grupos de alunos.
*Estas orientações
preliminares devem ser desenvolvidas até que haja novas orientações após
avaliações fonoaudiológica e psicológica com provável indicação neurológica.
8-
Encaminhamentos:
Avaliação da acuidade
visual, auditiva; avaliação e acompanhamento fonoaudiólogos, psicológicos, caso
seja necessário avaliação neurológica, para que melhor seja atendido em suas
necessidades educacionais.
Equipe
Multidisciplinar
Assinaturas:
Local e data.
Link pesquisa:
http://soatividadesparasaladeaula.blogspot.com.br/2013/01/relatorio-de-avaliacao-pedagogicacorpo.html
FONTE:
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