Homem dedica a vida à doação de sangue
Silmar conta a história do pai o maior doador de sangue do mundo; Orestes transformou Canoinhas na capital nacional de doação
Orestes Golanovski, atualmente com 72 anos, foi considerado o maior doador de sangue do mundo pela OMSDivulgação
Marielly Campos: vivabem@band.com.br
“Deus deu ao homem a capacidade de ir para a Lua, mas ainda não deu a capacidade de criar uma substância que substitua o sangue. Talvez para que o homem nunca se esqueça de que um depende do outro, sempre”. É dessa forma que Silmar Golanovski, relações públicas da Adosarec (Associação dos Doadores de Sangue da Região de Canoinhas), de Santa Catarina, explica a importância de ser um voluntário.
Silmar é filho de Orestes Golanovski, reconhecido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como o maior doador de sangue do mundo. Até junho de 2006 ele já havia feito 187 doações. A história de Orestes começou em 1958, nos tempos do serviço militar, quando fez sua primeira doação de sangue. Quando retornou do Rio de Janeiro para Canoinhas, ele continuou sua batalha em prol das pessoas que precisam de doações de sangue.
“Naquela época não existia banco de sangue na cidade, por isso os médicos antes de alguma cirurgia ou um parto, por exemplo, tinham seus conhecidos que se disponibilizavam a doar. Meu pai virou um ‘coringa’ das doações”, conta Silmar. Além de doar, Orestes, hoje aos 72 anos, começou a procurar pessoas que se disponibilizassem a fazer o mesmo.
Luta
“Ele tinha muita dificuldade para conseguir voluntários. Muitas pessoas têm medo ainda hoje, naquele tempo, ainda mais. Sempre tinham uma desculpa. Então ele tinha que dar exemplo”, afirma o filho. Segundo Silmar, a obstinação de Orestes era tanta que as pessoas começaram a não saber como dizer não a ele. “Às vezes a pessoa diziam não para a família do paciente, mas não conseguiam dizer não para ele”, acrescenta.
Durante sua luta em favor da doação voluntária, Orestes enfrentou diversas situações inusitadas. Uma delas foi quando se mobilizou a comprar uma geladeira para o hospital público mantido por religiosas em Canoinhas, para que tivessem como armazenar o sangue recebido.
“Ele era metido a ser equilibrista, fazia algumas coisas de circo. Juntou amigos que tinham algum talento e fizeram um espetáculo de circo. Tiveram um grande sucesso, mas o bilheteiro fugiu com o dinheiro”, relembrou Silmar. “No momento não conseguiram resolver aquele problema, mas com o tempo, ajuda de empresas, conseguiram a geladeira”, acrescentou.
Lições
Em outra ocasião, por volta da década de 1970, Orestes deu outra lição de vida. “Tinha acontecido uma festa na cidade e dois rapazes brigaram. Eles se esfaquearam. Foram levados ao hospital e precisavam de sangue. Meu pai doou duas bolsas, uma para cada. Na maca, os dois ainda continuavam a brigar e meu pai disse para eles ‘agora vocês não podem mais brigar, vocês são irmãos, têm o mesmo sangue’”, diverte-se Silmar. “Antes de sair do hospital os dois já tinham virado amigos”, relembra.
Essa não foi a única vez que o maior doador de sangue do mundo tirou duas bolsas de sangue no mesmo dia. Em uma ocasião, uma mulher teve hemorragia durante o parto. Orestes doou o que podia, mas ela precisava de mais. Então, ele procurou outro doador habitual. Chegando até a casa do possível doador, esse resolveu cobrar para dar seu sangue. Revoltado, ele procurou novas pessoas, sem sucesso. A família da paciente decidiu pagar. Voltando à casa, o homem resolveu pedir mais dinheiro. “Aí ele ficou mais revoltado ainda e resolveu doar novamente”, disse.
Nesta época, Orestes desconhecia o que diziam as determinações sobre a doação. Não sabia que não podia doar duas vezes no mesmo dia. “Foi em uma viagem a São Paulo, quando ele se voluntariou para doar no dia seguinte à outra doação, que a enfermeira afirmou que ele estava colocando sua vida em risco”, relembra Silmar.
Nos anos 1980, Orestes começou o que pode ser considerado o embrião da Adosarec. Ele fez um quadro de doadores, onde reunia contatos e nomes de possíveis doadores. Quando acontecia algum problema, lá ia Orestes atrás de doadores. Na época, a iniciativa fracassou, por falta de infraestrutura. Mas, no final do mês de novembro de 1991, nascia a associação.
Atualmente a Adosarec tem 4080 doadores cadastrados “fidelizados” e atende não só a cidade como municípios do interior e até de outros Estados, como o norte do Paraná. A associação organiza grupos e os leva de micro-ônibus para as cidades que necessitam de doadores. “Tudo sem custo algum para a família”. A organização também não depende de verbas do Estado, conta com doações e campanhas feitas por voluntários.
Atualmente, Canoinhas carrega o título de Capital Catarinense dos Doadores Voluntários de Sangue. Segundo a associação, a OMS (Organização Mundial de Saúde) prevê que 2% da população seja doador de sangue, sendo que no Brasil o índice cai para menos de 1%, mas, em Canoinhas os números ultrapassam a casa dos 6%.
Dedicação
Esse resultado é reflexo do esforço de toda a vida de Orestes. “Nós o temos como um exemplo. Eu tenho 45 anos. Então, desde criança, a gente se acostumou a vê-lo sendo solicitado, procurado para doar”, relembra Silmar. “Estamos na terceira geração da família de doadores. Sentimos muito orgulho disso, como filhos e netos dele, e também como moradores da Capital Catarinense dos Doadores Voluntários de Sangue”.
Hoje o pai de Silmar luta contra um câncer, mas ainda assim continua à frente do projeto, como presidente da associação. “Ele diz que isso é a vida dele, que se não puder estar mais à frente disso, só tem que esperar a vida acabar”, conclui o filho, com orgulho.
FONTE: http://vivabem.band.uol.com.br/saude/noticia/?id=100000510187
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