Alguns indígenas brasileiros ainda vivem isolados e sem contato com o homem branco, mas boa parte deles está integrada à vida moderna
13/04/2009
Manoella Oliveira
19 de abril é o Dia do Índio e, para comemorar a data, é comum que crianças pintem o rosto e façam enfeites que imitam cocares para colocar na cabeça. Esses são dois costumes conhecidos dos índios, mas eles têm muitos outros hábitos que estão se modificando ao longo do tempo. Vários, como tomar banho todos os dias, nós herdamos desses povos, assim como algumas palavras, como abacaxi e outras que dão nome a cidades por todo o Brasil, como Itacarambi e Itabirito.
Hoje, são 230 povos e, pelo menos a metade, vive quase que exclusivamente das fontes tradicionais (caça e pesca), como os Piripikura que vivem no Mato Grosso, enquanto outros já sabem usar computador, falam português e até atuam como políticos. Como você pode perceber, não dá para generalizar o modo de viver dos índios porque cada grupo vive de um jeito. Muitas pessoas se lamentam por pensarem que os indígenas estão perdendo sua cultura por ficarem cada vez mais parecidos com os homens brancos. Mas os indígenas se defendem e dizem que o modo de vida de toda sociedade se transforma com o passar do tempo e, com eles, não poderia ser diferente.
“As pessoas, normalmente, têm uma imagem do índio de 1500, da época da colonização, que vive na mata e é alheio às tecnologias. Na verdade, tudo caminhou, inclusive nas comunidades indígenas. A cultura é mutável mesmo, não é fixa”, explica Verônica Mendes Pereira, mestre em educação escolar indígena e professora do curso de licenciatura indígena da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais – ela dá aula para os professores índios para que eles possam ensinar melhor aos seus alunos indiozinhos nas escolas.
DIFERENTE, MAS IGUAL
Hoje, existem muitos índios que vivem em casas que têm luz elétrica e som. Já somam 5 mil os índios matriculados em universidades, estudando Medicina e Direito, por exemplo, e 20 mil os professores indígenas que ensinam nas línguas que falam. “O que caracteriza ser índio ou não é o jeito de viver, que está muito ligado a símbolos: por exemplo, o jeito de eles explicarem como acontecem os fenômenos da natureza, como os trovões, a chuva...é tudo mitológico”, diz a professora.
Ela conta, ainda, que mitos não são mentirinhas, mas são as maneiras com que cada tribo explica o mundo, é a ciência delas. “Os Xacriabá não falam língua indígena, mas preservam o mito de Iaiá Cabocla, que é uma onça que protege o território, as crianças e a aldeia. Um índio não deixa de ser índio porque tem carro”, defende.
“Os índios mantêm um espírito de continuidade, voltam às suas terras para fazer seus rituais. Alguns ainda vivem caçando e pescando como fizeram na vinda dos portugueses, outros vivem de em contato com os brancos, mas preservam sua cultura. O contato com outras culturas leva à adaptação. Os brasileiros também vivem com uma série de criações dos europeus e norteamericanos” , diz o professor do Departamento de Antropologia da UFF - Universidade Federal Fluminense - Mércio Gomes, que também foi presidente da FUNAI – Fundação Nacional do Índio – de 2003 a 2007.
ESCOLA DE ÍNDIO
Aproximadamente, 0,5% da população brasileira é indígena, está distribuída em todos os estados do país com maior concentração no Norte. Existem 180 línguas diferentes e essa é apenas uma das características que diferencia um grupo dos outros.
De acordo com Verônica, a partir da legislação de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, os índios conquistaram seus direitos, o que colaborou para o aumento das populações. O professor Mércio discorda. Ele afirma que, mesmo antes dessa Constituição, o número de indígenas crescia e eles já tinham alguns direitos.
“A grande alegria para a nação brasileira é que passados 500 anos da chegada dos portugueses, os povos indígenas estão crescendo. Na década de 1970, eles pareciam entrar em extinção, porque eles morriam de varíola, tuberculose e sarampo. Com o tempo, os remédios foram chegando, algumas doenças acabaram, eles adquiriram imunidade e, hoje, eles crescem a 4% ao ano enquanto o Brasil cresce a menos de 2%”, conta o professor. A população era de 100 mil, em 1955, e, agora, eles são 500 mil. Em cinqüenta anos, eles quase quintuplicaram!
Uma vitória indiscutível da Constituição de 1988 é a escola indígena, um lugar de ensino onde os alunos e os professores são índios. Nelas, eles podem ensinar apenas na língua própria, em português, ou nos dois idiomas. Os professores que dão aula nesses colégios são preparados por outras pessoas que trabalham em universidades, como a Verônica.
A ideia é que a escola tenha “um pé dentro da aldeia e o outro fora dela”, o que significa que os estudantes aprendem conteúdos ligados à cultura deles, como na disciplina “o uso da terra” que ensina a composição do solo, o tipo de plantas que nasceram ali, quais os chás que podem ser feitos e para que eles servem. Ao mesmo tempo, estudam como o governo e a sociedade podem ajudá-los, que direitos eles têm, entre outras utilidades. Aliás, um problema comum aos índios é a demarcação de terras – espaço destinados para eles morarem.
POR QUE DIA 19 DE ABRIL?
A data foi criada no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas, em 1943. A escolha foi uma homenagem ao I Congresso Indigenista Interamericano, um evento realizado no México, em 1940, que reuniu representantes de países da América para tomar decisões políticas importantes.
Os índios também foram convidados, mas ficaram desconfiados. A história de convivência entre homens brancos e índios não é pacífica, mas repleta de guerras. Depois de alguns dias, porém, os indígenas resolveram dar um voto de confiança e foram à reunião no dia 19 de abril.
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