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17 de julho de 2011

Uma questão de limites

Os pais devem estabelecer regras claras para as crianças e ajudá-las a lidar com as frustrações.
Educar filhos já foi mais fácil. Nossas avós, por exemplo, nem de longe tiveram as mesmas dúvidas que atormentam os pais de hoje. Para elas, criança não tinha querer e ponto final. Mas essa história virou do avesso, em boa parte devido à filosofia do “é proibido proibir” que reinou a partir dos anos 60. Como uma tentativa de expurgo do autoritarismo puro e simples que havia reinado até então, a imposição de limites na infância foi colocada na berlinda, julgada e condenada por especialistas em educação infantil como conduta inadequada.
Hoje, entretanto, psicólogos e educadores sabem – e defendem – que os pequenos precisam aprender a ter limites. Principalmente porque estabelecer regras e fazer a criança conviver com elas é fundamental para a formação de adultos equilibrados e seguros.
Primeiro porque dizer não quando necessário é uma forma de mostrar às crianças que nem tudo é possível. E que a vida é assim, cheia de nãos pela frente.
Dessa forma, elas vão aprendendo a lidar com as frustrações à medida que percebem que o mundo não foi feito para atender seus desejos. Caso contrário, ela crescerá achando que tudo lhe é permitido. Mais tarde, quando se deparar com um não, ou usará da força – nem que seja a do grito – para ter o que quer ou se desmanchará em lágrimas, tornando-se uma expert em chantagem emocional.
Além disso, impor limites – acredite – é uma maneira de dar segurança à criança e mostrar que você se importa com ela.
Mesmo aquele tiranozinho de nariz empinado, que faz o que quer, sente-se inseguro a maior parte do tempo pelo simples fato de que é pequeno. Precisa de alguém que lhe diga o que deve e pode ou não fazer. Se isso não acontece, cresce um grande sentimento de insegurança.
Afinal, imagine o que é para uma criança sentir que seus pais são tão inseguros quanto ela, na medida em que são incapazes de controlá-la quando ela passa dos limites. E mais. Impedir que se machuque numa brincadeira perigosa ou proibir terminantemente que ela se aproxime do fogão quando se está cozinhando é uma enorme demonstração de amor. E o bebê saberá disso.
Dizer “não pode, agora não, espere um pouco” também é uma maneira de criar filhos mais inteligentes. “Uma criança sem limites não desenvolve bem sua capacidade de raciocínio lógico. Seu pensamento fica um pouco caótico. Ela pode até ter um enorme potencial, mas, sem disciplina, seu raciocínio fica esparso e traz poucos resultados”, explica a psicóloga Aparecida Malandrin Andriatte, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Mackenzie.
De acordo com a psicóloga, um dos principais estudiosos desse assunto foi o psicanalista inglês Wilfred Bion. Ele acreditava que um pouco de frustração não faz mal a ninguém. Ao contrário. Sentindo-se frustrada por não ver sua vontade satisfeita a tempo, a criança começa a desenvolver o pensamento na tentativa de atingir seu objetivo.
Quem já viu um bebê engatinhando em direção a uma escada, tendo uma mamãe de sentinela, sabe muito bem a que Bion se referia ao formular essa teoria. A cada tentativa, o bebê procura um caminho alternativo para chegar lá sem ser barrado. Enquanto tenta driblar a zelosa mamãe, o bebê, de quebra, está desenvolvendo o pensamento e o raciocínio em busca de soluções práticas para os problemas.
Paciência – No entanto, a colocação de limites acaba sendo um aprendizado para os pais.
Primeiro porque, muitas vezes, os adultos vão bater de frente com suas próprias dificuldades em relação aos limites. Uma mãe eternamente atrasada, por exemplo, vai encontrar dificuldades em impor horários às crianças. Por isso, os especialistas em educação infantil acreditam que impor limites é uma questão tamanho família que exige dos adultos alguns requisitos básicos. A paciência está entre eles. Os pais terão de falar várias vezes a mesma coisa até que a criança compreenda a regra do jogo. Por isso, é indispensável manter a calma. Sempre. Gritos não só não adiantam como são o caminho mais curto para se perder a credibilidade. E palmada, nunca.
Outro passo importante nessa dura tarefa é ter consistência. A regra de não fazer do sofá cama elástica vale para hoje, amanhã e sempre, independentemente do estado de humor dos pais. Não apenas quando a mãe ou pai chegam do trabalho com os nervos à flor da pele.
Também é preciso ter coerência. As crianças aprendem com exemplos, mais do que com palavras. Imagine a confusão do pequeno ao perceber que o pai diz uma coisa e age ao contrário. Existe incoerência maior do que, na tentativa de parar com o berreiro, o adulto “sair” no grito, exigindo que a criança “cale a boca?” Claro que o cansaço e a insegurança de não saber como agir fazem qualquer um, por mais sensato que seja, perder a cabeça de vez em quando.
Por isso, na dúvida, é bom os pais adotarem o hábito de perguntar a si mesmos: “Estou sendo coerente nessa atitude?”
Muitas vezes é o que basta para achar a resposta.
Punição – Os pais também não podem se esquecer que é necessário exercer bem o senso de justiça. Nos casos em que algum tipo de punição deva ser imposto, ela deve ser proporcional ao tamanho da “arte” e da idade do seu filho. Nenhuma criança de dois anos, por exemplo, é capaz de fazer uma travessura tão séria a ponto de ficar de castigo um mês inteiro. É importante ainda falar de maneira clara para ser entendido pela criança.
Na maioria das vezes, uma ordem simples do tipo “não pode porque é errado fazer isso” ou “machuca” é o que basta. E para fazer valer as regras, os pais devem lançar mão da firmeza. Não mudar as normas no meio do jogo é atitude indispensável.
Você não deixou seu filho fazer algo, por exemplo. Ele, por sua vez, desandou em um choro sentido. Arrependido de sua dureza, você acaba deixando “só um pouquinho”.
Tudo vai por água abaixo. Os pais precisam lembrar de manter sua palavra, não fazer promessas vãs ou prometer o que já sabem que não cumprirão. É um aprendizado difícil.
Para pais e filhos. Mas vale a pena.
 
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