ATIVIDADES DE LEITURA E ESCRITA
Com o objetivo de expor as crianças à leitura e a escrita são
desenvolvidas diversas atividades, algumas das quais serão descritas abaixo:
Contando Histórias
Os contos de fadas e histórias em geral são introduzidos desde que as crianças
entram na pré escola e, como acontece também com as crianças ouvintes (Perroni,
1992), as histórias são contadas várias vezes, até que, valendo-se das
perguntas do adulto, em um primeiro momento, as crianças comecem a relatá-las.
Nota-se que depois de algum tempo, as crianças se apropriam do papel de
“leitores”, olhando as letras e "lendo" as figuras para os colegas de
classe.
Depois que as crianças demonstram já conhecer uma história, dramatizam-na,
escolhendo os papéis. Desde cedo são incentivadas a registrar algum aspecto da
história. Inicialmente tal registro se dá por intermédio de desenhos e nas
classes mais avançadas, pela da escrita.
Percebe-se que, como na criança ouvinte, no início os desenhos são basicamente
constituídos de garatujas sem significado consistente. Aos poucos vão tomando
forma e significado, até que os alunos passam a fazer uma previsão do que será
desenhado. Depois de algum tempo as formas vão se aproximando do real e podem
até ser reconhecidas mesmo fora do contexto.
Adivinha quem
é?
Fazem-se tiras de cartolina com os nomes das crianças e dos profissionais que
atendem à classe, as quais são colocadas num saco. O professor sorteia um nome
e as crianças adivinham de quem é. Após algum tempo de trabalho, quando a
classe já se constituiu como grupo, dão-se pistas de quem é aquele nome:
"É uma menina. Tem cabelo loiro. Está de tênis preto. Está de rabo de
cavalo", etc. À medida que as crianças vão conseguindo identificar o
portador das características apontadas pelo professor, as pistas vão se
tornando menos óbvias. Esta atividade pode ser utilizada para identificar
objetos de diferentes categorias semânticas, assim como animais. É possível,
também, introduzir a identificação de pessoas e objetos usando a negação, o que
possibilita o trabalho com eliminação de variáveis. Ex.: "Não é menina.
Não tem cabelo preto." Uma outra possibilidade é as crianças assumirem o
papel, antes desempenhado pelo adulto, de apresentar as características das
pessoas e objetos para que sejam identificados pelos colegas. Montando os Nomes
São colocadas duas tiras de cartolina com o nome na carteira da criança. Na
frente delas corta-se uma das tiras, dividindo o nome em partes (duas ou três).
No início mantém-se o modelo na mesa e a criança é solicitada a montar apenas o
seu nome. Num próximo passo, ela trocará de lugar e montará também os nomes dos
colegas. Passado algum tempo de trabalho e, se as crianças tiverem condições,
retira-se o modelo da mesa. Se demonstrarem dificuldade ou solicitarem modelo,
deverão recorrer à lousa onde sempre haverá o modelo. Após a montagem dos
nomes, as crianças colam, numa folha de sulfite, a sua produção.
Registro dos Nomes das Crianças
Escrevem-se os nomes juntamente com as crianças na folha de papel que será
utilizada para a produção e, em seguida, ela é entregue para o seu dono. Num
momento posterior, antes da entrega das folhas, aproveita-se para estimular os
alunos a fazerem o reconhecimento e identificação dos nomes dos colegas. Esta
atividade permite muitas variações, como solicitar a uma criança que faça a
distribuição das folhas; usar pistas de adivinhação, etc.... O mesmo pode ser
feito com as pastas, objetos pessoais, etc...Posteriormente pode-se pedir às
crianças que, além de identificarem, escrevam tanto o seu nome como os dos
amigos. Quando as crianças já reconhecem os nomes, começa-se a estimulá-las à
escrita dos mesmos.
Nessa fase de aprendizado, utiliza-se jogos mais elaborados e estruturados,
como por exemplo:
- jogo da forca;
-descobrir quais letras faltam no nome dos amigos;
- perceber entre dois nomes selecionados suas semelhanças ou os critérios que
foram utilizados para a seleção (quantidade de letras, letras semelhantes
iniciais ou finais);
- bingo de nomes;
- letras misturadas para formar os nomes, etc...
Calendário
Todos os dias tiras de cartolina com os nomes dos alunos são colocados na
lousa, dividida em quem veio e quem faltou à escola. Cada criança sorteia um
nome, identifica de quem é, e o entrega ao colega que deve colar a tira com seu
nome na lousa. Esta atividade tem variações, como colar a tira, mesmo que seja
o nome do colega, após identificá-lo. O professor vai fazendo perguntas, como:
"quem veio ou faltou na escola hoje?" e as crianças ou falam o nome,
ou o procuram em meio às tiras de papel e, após o localizarem, colam a tira na
lousa.
Uma outra possibilidade é combinar esta atividade com a “Adivinha quem é?”. O
professor sorteia um nome e a criança cujo nome foi sorteado escolhe uma cor de
giz e “escreve” seu nome na lousa, próximo à tira onde o mesmo está escrito.
Para se expor à noção de tempo, inicialmente o professor vai introduzindo os
conceitos oralmente e posteriormente através da escrita por meio de expressões
como: ontem foi ...; hoje é ....; amanhã vai ser.... Nas salas de pré-escola,
há uma expansão dos conceitos, introduzindo-se os dias da semana e os meses dos
ano. Os materiais utilizados para o desenvolvimento do calendário são
diversificados, podendo-se utilizar desde os calendários convencionais, até
outros, feitos pelo professor e pelas crianças, variando- se a forma e o uso de
acordo com a criatividade do professor. Pode-se introduzir no calendário as
atividades que serão desenvolvidas durante aquele dia e na semana. Esta
atividade, por ser repetitiva, pode ser aproveitada para se introduzir a
exposição a outro tipo de letra, como a cursiva. Observa-se que é nessa
atividade que as crianças tentam primeiramente substituir a letra de forma pela
cursiva.
Correspondência entre
Escrita e Objetos
Num primeiro momento as mesas e cadeiras são etiquetadas com os nomes das
crianças, escritos pelo professor juntamente com a criança na cor escolhida por
ela. Reconhecendo e identificando seu nome, a criança localizará sua cadeira e
mesa, num primeiro momento com a ajuda do professor e depois de algum tempo de
trabalho, sozinha. Posteriormente espera-se que ela seja capaz de fazer o mesmo
com os objetos dos colegas. Não há um momento específico para esta atividade.
Aproveitamos para fazê-la, quando vamos usar as mesas e cadeiras para comer,
desenhar, etc...
Álbum de Fotos
Solicitam-se fotos de todas as crianças e profissionais que atendem à classe,
tira-se xerox das mesmas, de modo que cada um tenha a sua cópia. Com as fotos
trabalham-se os nomes e também estruturas frasais simples, do tipo: "Este
é meu amigo Tarcísio". As estruturas são escritas junto com as crianças em
folhas de sulfite, para montar um livrinho, de modo que cada um tenha sua
cópia. Pode-se montar o livrinho também no caderno de desenho. Nas classes de
pré-escola as fotos passam a ter uma conotação documentária Caixa de Fósforos
com Fotos, Contendo Letras do Nome.
Esta atividade combina o reconhecimento de fotos e a montagem dos nomes, e é
proposta somente quando os alunos já reconhecem todas as letras de todos os
nomes. Inicialmente dá-se uma tira de papel para o aluno, na qual as letras de
seu nome estão separadas, cada uma em um quadradinho. A criança recorta todas
as letras, que, depois são colocadas dentro de uma caixa de fósforo com a sua
foto colada do lado de fora. Esta caixa vai circulando entre todos os alunos,
que tirarão as letras de dentro e tentarão montar os nomes, primeiramente com e
mais tarde sem o modelo. Uma variação desta atividade é entregar às crianças
envelopes contendo letras para que elas montem os nomes, sem o apoio das fotos.
Cantinhos
Esta atividade consiste em colocar em cada canto da sala diferentes tipos de
estímulos, como: lápis e papel, jogos de montagem e encaixe, objetos que
desenvolvam o jogo simbólico e livros infantis. No início, as crianças
geralmente optam pelos jogos, ficando, como últimas opções de exploração, os
cantos com livros e os com lápis e papel. No decorrer do semestre, estes cantos
passam a despertar mais o interesse das crianças, que ao explorá-los, localizam
letras de seu nome e dos colegas nos livros e contam as histórias aos colegas.
Relatos de Final de
Semana
Usa-se caderneta de comunicação diária com os pais, onde geralmente são
registrados pelas mães, entre outras coisas, o final de semana. É pedido às
mães que escrevam o relato junto com a criança. Assim, na segunda-feira, após a
atividade de calendário, o professor e as crianças sentam no chão em roda, e
elas contam como foi o fim de semana. Muitas vezes as crianças não conseguem
contar o que fizeram, principalmente no início do trabalho. Quando isto
acontece, o professor lê junto com elas o que a mãe escreveu. Depois que todos
fizeram seu relato, sentam nas cadeiras e cada criança conta o que foi mais
significativo para ela. O professor elabora uma frase com a produção oral ou
sinalizada da criança e a escreve na parte inferior da folha; lê o que escreveu
e entrega para a criança desenhar. Passado algum tempo de trabalho o professor,
após escrever nas folhas as produções das crianças, sempre em forma de frases
ou de pequenos relatos, mostra as folhas para as crianças e todos juntos fazem
a leitura de todas as produções. Em seguida entrega-as para seus autores. A
entrega se dá da seguinte forma: o professor lê uma das folhas, sem falar o
nome da criança, ex: "Foi ao cinema com a mamãe e o papai". Então
todos tentam adivinhar quem é o autor daquele relato.
A seguir as crianças fazem o relato partindo do desenho, na folha
escrita. Nos outros dias da semana, após o calendário, é feita a leitura do
conteúdo de cada caderneta para a classe. A seguir os bilhetes são respondidos
por escrito pelo professor, sendo a resposta lida a seguir para as crianças.
Outra possibilidade é enviar para a casa das crianças folhas onde estão escritos
os dias correspondentes ao final da semana (sábado e domingo) para que seja
feito, juntamente com a família, o registro das atividades realizadas pela
criança. Este registro pode ser feito usando-se desenhos, colagem de ingressos,
figuras correspondentes a filmes assistidos, e mais tarde pela escrita.
É servindo-se desses pequenos relatos de finais de semana que as crianças
começam a identificar e "ler" suas frases e as dos seus amigos. Elas
iniciam a "leitura" de todos os elementos das frases (artigos,
verbos, preposições etc ...) oralmente ou usando sinais. A partir daí, o
contexto escrito começa a ser ampliado para textos de três ou quatro frases até
chegar a textos mais longos e complexos.
Registros
Além do registro do relato de final de semana, trabalha-se também o registro de
atividades e passeios. O professor trabalha com as crianças onde, como e quando
vão, quem vai etc. Manda o bilhete para a mãe, comunicando o evento, sendo que
a criança já sabe o conteúdo do bilhete. Na volta do passeio é realizada a
dramatização e o registro do que aconteceu: “onde foram”, “quem foi”, “como
foi”, “o que viram” etc. O registro se dá da mesma forma que os relatos de
final de semana. Posteriormente, o registro passa a ser feito de duas formas:
pelo professor com o grupo classe ou pelas crianças, que podem usar fotos como
apoio para a sua produção. Outra possibilidade é, após a produção de um texto
pelo grupo, pedir às crianças que relacionem as partes do texto às fotos
correspondentes.
Leitura
Na leitura, todas as palavras podem ser sinalizadas e podem também ser
utilizados o alfabeto digital para artigos, nomes próprios, e para algumas
preposições e advérbios . Algumas preposições têm seus próprios sinais (para ,
com, etc ...) e são reconhecidas pelas crianças na escrita (facilitando a sua
utilização na fala). Nota-se que com isso elas apresentam maior facilidade para
reconhecer frases e palavras isoladas do texto.
Um fato
bastante comum no desenvolvimento da "leitura" é uma sensível melhora
na articulação das palavras mesmo pelas crianças com dificuldades. Elas parecem
prestar mais atenção na sua articulação e na do outro, o que resulta numa fala
mais inteligível. O uso da leitura orofacial como pista na busca da relação
fonema-grafema também foi observado por Cruz (op. cit.). Ainda segundo Cruz, à
medida que confrontam suas escritas com as informações que o meio lhes
proporciona, as crianças buscam uma adequação maior na relação
escrita/sonoridade. Quando se nota tal preocupação nos alunos, procura-se fazer
com que busquem a forma convencional dos vocábulos, como ilustra o exemplo
abaixo:
O professor
pergunta à classe:
- Como eu
posso escrever a palavra " bola" ?
Se as crianças
responderem com a letra "O", tenta-se fazê-las pensar sobre o que vem
junto com a letra "O", e juntos conseguimos chegar à escrita
convencional, dando a pista auditiva, da leitura orofacial e do alfabeto
digitalEste tipo de intervenção acarreta um envolvimento muito grande dos
alunos, tornando-os mais atentos à relação fala x escrita, estimulando-os na
busca da escrita convencional.
Nota-se também
que nesse momento existe uma troca muito grande entre as crianças: aquela que
percebe mais a relação fala x escrita acaba dando a pista para os colegas,
fazendo com que as que não estão no mesmo nível sejam beneficiadas.
Embora a alfabetização formal se dê somente no Ensino Fundamental (primeiro
grau), o trabalho tem início desde a primeira etapa da pré-escola com o
objetivo de expor as crianças a uma escrita diversificada, envolvendo
diferentes tipos de textos.
Procura-se
usar estes textos nas mais variadas situações escolares e sociais, propiciando
uma visão mais ampla da escrita: ela não se restringe somente ao ambiente
escolar, passando a ter um significado mais amplo e dinâmico. A criança tem
oportunidades de vivenciar o uso da escrita em diferentes contextos, percebendo
sua utilização e significado para a vida.
Esta maneira de ver a alfabetização, em que a criança pode escrever de forma
criativa e espontânea, reflete uma crença na necessidade da escola e do
professor assumirem uma nova postura em relação a todo o processo.
Embora não seja objetivo que os alunos saiam alfabetizados da pré-escola,
observa-se que muitos já começam a produzir seus primeiros textos, ainda que
com a ajuda do professor, contribuindo para que a criança surda seja vista como
escritor e leitor capaz de entender e se expressar.
OBS: Por gentileza quem souber a autoria deste texto por favor me comunique para que eu possa dar os devidos créditos ao autor.
Atenciosamente, Alessandra.